30 dezembro 2010

Seguir...


           Sigo meus passos, e ao meu derredor, vislumbro fragmentos de essências humanas... Essências desnudas, egos ímprobos ou castos, tanto faz... E concluo a partir dessas frações:
           O nosso burilamento consciencial é alcançado a partir das construções que solidificamos com nossas vivências. O que hoje se faz latente é o que ontem não se fez atuante, por isso o mourejar incessante se faz necessário, incansável...
           Embora a incerteza me destitua a racionalidade de alguns passos, prossigo continuamente fiel à sensatez da minha alma.
           Se o acaso me defronta, improviso.
           A sensibilidade me norteia ao que me é peculiar, ao que me transcende a expectativa interior... Companheira abstrata das horas imprevisíveis... Seguimos de mãos dadas, enveredando e descortinando as ambiguidades magistralmente urdidas pelas circunstâncias.
           Intrepidez me impele a desmontar as amarras que me cingem ao medo, à insegurança, à indolência. Quero o novo, a transformação maturada de mim. Quero a liberdade de agir e pensar sem atrelar-me à convicções formadas pelo senso alheio. Quero desamarras de convenções sociais. Quero ser eu, na minha mais pura essencialidade... A maturação que busco é uma espera processual.
           As dores? Inevitáveis...
           O aprendizado? Conseqüência natural...
           Não temo, apenas sigo. Sempre...

Karina Alcântara

27 dezembro 2010

Construção


Construo-me através de fragmentos de fatos e vivências.
Sedimento-me na certeza de ser o que penso.
Ajo em consonância aos meus valores e dissabores.
E resvalo-me algumas vezes, ao sabor da minha torpe imprudência...

Sou mais do que preciso ser em alguns momentos,
Bastante para muitos que me enaltecem o sentido,
Mas se sou pouco no medo que me oprime a razão
É porque muito de mim turvou-se em inação...

Por muitas oportunidades, tornei-me frágil,
A noite acariciou-me o peito opresso,
As lágrimas fustigaram-me a alma
Numa candura de alento impresso...

E descubro-me na refeitura de mim,
Tomando-me em novos significados.
Alinhavo retalhos esquecidos
Da minha essência, há muito abandonados...

Karina Alcântara

  

26 dezembro 2010

Missionários



São tantas as dores,
Bastas, as aflições,
Que segredam aos homens, Teus filhos,
O desespero e a ingratidão...

Púberes invigilantes!
Do Teu regato de amor germinaram.
Enceguecidos pelos apelos amorais,
Por trilhas insalubres, enveredaram...

Mas Tua Misericórdia Divina não tarda
Ao socorro desses celerados...
Sedentos de indulto remissivo,
Choram os desvios praticados.

O remorso os aniquila
Em pungente depuração.
Prometem sanar os débitos,
Em busca da salvação...

Seguem então confiantes
Pelos caminhos sinuosos,
Trilhas incertas, que sem fé,
Geram passos duvidosos...

E do Teu regaço amoroso,
O auxílio não tarda aos Teus filhos.
Como bálsamos curativos envias
Teus emissários amigos...

São missionários de amor
Atuantes na caridade.
Levantam a bandeira do Senhor,
Junto à humanidade...

Karina Alcântara

13 dezembro 2010

Cura


A tessitura da alma urdida
Com a matéria-prima do amor
Evita males diversos
Que levam a desespero e dor...

Comecemos nossa cura
Buscando o socorro na prece
Profilatizemos as dores morais
Na fé, verdadeira benesse

Pois do que se leva em nós,
Seja sempre construção
Para ajudar a erguer outros
Nos momentos de aflição

Comecemos nossa cura...

Karina Alcântara



09 dezembro 2010

Velho Monge

Rio que tantas vezes transbordou
Que tanta sede matou,
Que a muita gente deu de comer


Choro, com tua agonia
Agonizas e pede socorro.
Quem me dera poder te atender,
Quem me dera...

Talvez, quem sabe?
Um dia eu possa encontrar uma forma
Para salvar o teu leito.

Oh! Querido e velho monge,
Lembro de minhas brincadeiras
Quando banhava em tuas águas,
Límpidas, puras e cristalinas;

Ah! Era gostoso e maravilhoso
Era um verdeiro festival,
Beleza e formosura só tuas margens tinham

Rio Parnaíba, tu fostes e sempre serás:
O Rio mais importante do nordeste.

(Orisvaldo Ramos)
Orisvaldo poetizou a imponência, tanto quanto a derrocada e agonia do nosso Velho Monge, codinome de um os maiores rios nordestinos: o rio Parnaíba... A foto acima o retrata em sua mais majestosa opulência. Foi o berço da nossa linda cidade Teresina. A alimentou e a viu prosperar em todas as fases de seu desenvolvimento... O ancião de barbas brancas e a menina folgazã nos albores da sua infância, até sua mocidade cheia de vida e prosperidade. Hoje ela o vê em seus passos lentos a pedir socorro, no sofrimento surdo como o marulhar das suas águas... Ela sofre, pede, clama pela vida de seu velho amigo e pai, através da fé de seus habitantes...  E é no período certo, que as primeiras chuvas caem como bálsamo revigorando nosso Velho Monge... Misturando-se às lágrimas de gratidão da sua jovem menina de olhos verdes, ele mostra toda sua energia na força das suas águas e na imponência de sua majestade, como a consolá-la na sua dor... O ronco de suas águas, mais parece uma prece de gratidão em reconhecimento do amor de sua pupila, menina. E então os vemos novamente, a estreitar os laços de afetividade e amor, presentes na sua gente, no povo teresinense...

Karina Alcântara

06 dezembro 2010

Jesus


           Aproxima-se uma data muito importante do nosso calendário.
          Dezembro representa pra todos nós cristãos, o marco de luz na humanidade, pois há mais de 2000 anos a Misericórdia Divina nos mostrou que apesar de nossos desatinos e desalinhos morais, sempre somos amados infinitamente pelo seu Coração Augusto.
          Deus nos fez reconhecer jamais esquecidos por Ele. Para tanto, enviou ao seio da Terra-Mãe, solo abençoado e marcado pelas nossas dores e lágrimas vertidas na escuridão de nossa ignorância, o filho do Seu coração paternal, para acender a luz da caridade e do amor entre os homens.
          Nascia em terras áridas, acolhido na simplicidade da manjedoura, nosso grande Irmão e Mestres Jesus, ladeado pelos animais, seres simples e filhos também do mesmo Pai.
         Não vestiu-se de púrpura, não foi detentor de ouro nem prata. Seu reinado não se circunscreveu aos aplausos do mundo, não foi submetido às glórias efêmeras, nem às tolas vaidades dos sedentos da egolatria.
         Seu reinado era sim, o de Amor e Caridade. Trazia a pureza e a humildade no coração generoso, a simplicidade nos gestos, no falar, no caminhar... O olhar casto e sereno extravasava pureza e sua sacralidade contrastava com a situação moral do seu rebanho. O falar era uma oração. O conselho, de uma sapiência humílima, atingia as fibras mais íntimas daqueles corações simples que o ouviam e se contagiavam na busca do aprimoramento moral. Sua sabedoria buscava alcançar as pessoas sofridas, amarguradas e desprezadas pelo sistema político-social da época, estruturado pelos expoentes da sociedade, mentes que ainda não haviam descoberto o verdadeiro senso de justiça e igualdade.      
          Estava ainda pra ser plantada a semente divina, pelo grande médico e pastor de almas, em missão peregrina nessa escola abençoada...  
         Seu gesto de amor e sacrifício deixou marcas indeléveis na memória de multidões que arrebanhava ao entardecer, após a faina do dia, às margens do Genesaré, para ouvir suas belíssimas e consoladoras exortações.
         Escreveu com seu sangue e sua dor, a absolvição da humanidade, que em grande parte, não soube compreender os desígnios divinos. Mas a semente ficou plantada, latente, no solo dos corações humanos, a espera da época certa da colheita...

Karina Alcântara

Mãe


Mãe, o amor profundo e incondicional...
Delegado por Deus, à sua mais perfeita criação:
A mulher, a obra-prima de amor e sensibilidade,
Fruto da Misericórdia Divina,
Aos filhos do Seu augusto coração.
Mãe, abriga em teu colo materno,
Os frutos de seu Amor Maior!
Alimenta-os em teu seio bendito,
Ensina-os os primeiros passos,
Mostra com teu exemplo,
A recusar a palavra que fere,
A abrigar em seu ego pueril
O sentido da humildade
Colhe no seu coração infantil
Os primeiros brotos de ervas daninhas...
Ensina-os com tuas lágrimas resignadas
A não lamentar diante das aflições...
Mostra-os o caminho redentor
Com teu exemplo de renúncia.
Ensina-os desde cedo a juntar as mãos em prece,
Quando a dor e alegria o visitem
Mostra com tua sensibilidade, a igualdade fraterna
Pois somos todos uma família de amor...
Deus não poderia ter delegado tarefa tão sublime
A outra pessoa que não sejas tu, mulher, mãe.
És como um anjo na Terra, a velar pela vida dos filhos do teu Pai.  

Karina Alcântara

29 novembro 2010

Alma Desnudada


Sentimentos represados
que eternizaram momentos,
retidos por contingências
que se alcançam os motivos...

Lágrimas minhas extravasadas
que escreveram histórias,
que jamais seriam protagonizadas.

O grito interior silenciado
pelo conselheiro mais sábio: o tempo.

Amigo-amor, amigo-anjo...
Estende tuas asas e cura as minhas dores.
Balsamiza com o teu eu , minhas inquietações.
Acalenta meus sonhos renunciados...

Tu vieste antes de mim,
pra me aconchegar em teus braços fraternos,
para me reordenar no teu conselho sábio...

Com teus passos, ensinar-me a caminhar.
Ajudar-me a reescrever minha história.
Com o teu exemplo de resignação me reconstruir,
Com teu abraço me re-significar...

Ana Karina Alcântara





25 novembro 2010

Missão



O amor calado, mudo.
Na sua mais nobre pureza...
A sublimidade extravasa
Em resignada singeleza.

Um amor maior o surpreende
O chama ao trabalho renovador
Mas ele não sofre, não lamenta,
Silencia a sua dor...

A renúncia ao seu afeto
Enobrece seu terno coração.
E segue fiel adiante
Abraçando sua missão...

Nas estradas de provação
Do sacrifício lenitivo
É a fé que o reestrutura
Com abençoado curativo

Pois certo que o amor é eterno
Na infinita vastidão
As lágrimas visitam-lhe a alma
Num pranto de gratidão...


Karina Alcântara

20 novembro 2010

Perdão

          
           Perdão significa no sentido estrito, remissão de pena, desculpa, indulto. Mas tem essa palavra um conceito bem mais amplo, quando vemos pelo ponto de vista emocional.
           Perdoar não se restringe a um gesto mecânico ao verbalizar a famosa frase: Eu perdôo!  
          Existe toda uma estrutura psico-emocional por trás desse gesto para que se torne verdadeiro.  De nada adiantaria a pessoa falar que perdoa outra, sem o esquecimento da ofensa. Já vi gente falando: Eu perdôo, mas não quero mais aproximação! Será que perdoou mesmo? A dinâmica do perdão, nos remete a uma profunda reflexão. Temos que estar cientes que o esquecimento da falta que o outro praticou contra nós deve ser uma constante no mecanismo do perdoar. 
          Jesus Cristo, ao perdoar Maria Madalena, na frente de seus algozes, apresentou-nos o poder do perdão, na sua máxima expressão. Da mesma forma quando respondeu a Pedro: “Não perdoai sete vezes, mas setenta vezes sete vezes.”  Entende-se daí a capacidade ilimitada de perdoar que teremos que acolher em nosso coração. Um exercício que exige de nós, prática,  humildade e amor.  É fácil? Não. Em determinadas situações nos é imensamente penoso indultar o outro de sua falta, quando nos fere o orgulho, a tola vaidade ou nossos mais variados interesses principalmente de cunho materialista.
          Nossa constituição física e espiritual foi sabiamente arquitetada por Deus, de modo que funcionam como uma caixa de registros de nossas ações mecânicas e mentais. Todos nós somos energia. Trocamos energia incessantemente, por isso é importante que estejamos cientes em engendrarmos boas ações e cultivarmos pensamentos elevados.
          O perdão quando verdadeiramente sentido, nos satura de energia curativa. Mas, ao contrário, o rancor traduz-se em energia perniciosa à nossa alma, que com o tempo, reflete em nosso corpo provocando-nos doenças. Daí vermos ao nosso derredor, pessoas com a saúde do corpo seriamente comprometida, fruto dos desatinos e atitudes inconsequentes que teimosamente insistem em cultivar, tornando dessa forma, a vida cada vez mais penosa nos caminhos que Deus oferece.
           Portanto, silenciemos nosso íntimo, buscando ouvir a voz serena e melodiosa do nosso Mestre Jesus Cristo, a ecoar dentro de nós, convidando-nos a reforma interior e a caminharmos juntos rumo à glória em Deus.

Abraços.

Karina Alcântara

19 novembro 2010

Renúncia



A solidão vergasta
A moldura da alma
Entorpece os sentidos
Subtrai-nos a calma...

Os ponteiros do relógio
Trilham soberbos na noite
A despeito da minha dor
Que fere como o açoite

Pressagiam a triste ausência,
D’um amor que não voltará
Que o tempo levou embora.
Mas que dentro, eternizará.

A lavagem da alma doente,
O crepúsculo prenuncia.
As lágrimas vertem dolentes,
Numa saudade pungente
Que ao amor renuncia...

Karina Alcantara

16 novembro 2010

Afinidade


A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
E o mais independente.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro
retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto
no exato ponto em que foi interrompido.

Afinidade é não haver tempo mediando a vida.
É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo para o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.

Ter afinidade é muito raro.
Mas quando existe não precisa de códigos
verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento,
irradia durante e permanece depois que
as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar
a um não afim, sai simples e claro diante
de alguém com quem você tem afinidade.

Afinidade é ficar longe pensando parecido a
respeito dos mesmos fatos que impressionam comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavras.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento

Afinidade é sentir com. Nem sentir contra,
nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente,
mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado,
não para eles próprios.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar, ou, quando falar,
jamais explicar: apenas afirmar.

Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.
É conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quanto das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação no ponto em que
parou sem lamentar o tempo de separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser,
cada vez mais a expressão do outro sob a
forma ampliada do eu individual aprimorado.


Artur da Távola

Absolvição




As horas passam,
As horas calam...
Sinuosas, silentes,
Castas, incúrias.
 
Quedam expectativas,
Clamam conjecturas.
 
Saciam em si,
O desejo infrene,
A conduta indene
Da plena satisfação
Do ego improbo,
 
Mas, digno de absolvição...
 
Karina Alcântara

13 novembro 2010

Toqueiros


No horizonte de lutas e aflições
A Providencia Divina se faz...
Vêm na figura humana,
Como anjos da paz...

O caminhar leve e preciso,
Expressa a convicção missionária.
Emoldurada no olhar sereno,
Mitigam dores solitárias.

São luzes do céu na Terra,
Aclarando muitos destinos
Onde passam vão dissipando
A crua aridez do caminho

Pungindo lutas,
Ceifando dores
Seguem firme no intento.
Levando albores aos vencidos,
Socorrendo os desvalidos.
Aplacando o desalento...

Sob as vestes escuras e rotas,
Escondem suas asas diáfanas,
Flanam por entre os filhos de Deus.
Buscando a semente não gestada.

As mãos juntam-se em prece,
As lágrimas molham a estrada,
Numa súplica silenciosa.
De missão tão sublimada

Choram pelos filhos divinos,
Perdidos nas estradas da dor
Mas seguem firmes e retos
Na caridade e no amor...

Karina Alcântara


12 novembro 2010

Encantamento


  
Encanta-me
Com tua graça...
Com tua raça...
Com teu ser...

Faz de mim
Teu capricho audaz.

Faço de ti
Escudo da minha paz.

És pra mim
O grão que o vento leva,
A luz que ao branco ofusca,
A chuva serena na algidez noturna.

Sou pra ti, quiçá a eternidade
Dos meus momentos de desatinos.
No meu íntimo febril e insone,  
A prudência grita meu nome
Nas emoções em desalinho...

Encanta-me... 

Karina Alcântara

11 novembro 2010

Amor Profano


Ufana meu ser poético, sedento de desejos
Sublimados pela tua essência depuradora...

Lava-me com tuas contradições...
Leva-me ao infinito
Onde eu possa te alcançar e compreender.

Enxuga meu pranto
Com tua essência desnudada, altruística...

Dá-me tudo o que de melhor tens.

Daí, então eu possa te compreender...
Eu possa te aconchegar...
Eu possa te serenar dentro de mim...

Karina Alcântara

10 novembro 2010

Perspectiva



 O nada em mim se fez tudo...
Nas horas vagas da noite...
Aflorou em mim a saudade...
Vergastou-me como açoite

Alinhava em mim o teu ser...
Aprisiona-me em teus laços,
Refugio-me em teu regaço,
Diante de ti me faz crer...

Que teu silêncio me remedia a alma,
Faz-me transigir a calma,
E cedo aos apelos castos
Do teu ser...

Karina Alcântara

09 novembro 2010

Amor Maduro


        
        O amor maduro não é menor em intensidade. Ele é apenas quase silencioso. Não é menor em extensão. É mais definido, colorido e poetizado. 
        Não carece de demonstrações: presenteia com a verdade do sentimento. Não precisa de presenças exigidas: amplia-se com as ausências significantes.
        O amor maduro somente aceita viver os problemas da felicidade. Problemas da felicidade são formas trabalhosas de construir o bem e o prazer. 
         Problemas da infelicidade não interessam ao amor maduro.  
        O amor maduro cresce na verdade e se esconde a cada auto-ilusão. Basta-se com o todo do pouco. Não precisa nem quer nada do muito. 
        Está relacionado com a vida e a sua incompletude, por isso é pleno em cada ninharia por ele transformada em paraíso. É feito de compreensão, música e mistério. É a forma sublime de ser adulto e a forma adulta de ser sublime e criança. O amor maduro não disputa, não cobra, pouco pergunta, menos quer saber. 
        Teme, sim. Porém, não faz do temor, argumento. Basta-se com a própria existência. Alimenta-se do instante presente valorizado e importante porque redentor de todos os equívocos do passado. 
        O amor maduro é a regeneração de cada erro. Ele é filho da capacidade de crer e continuar, é o sentimento que se manteve mais forte depois de todas as ameaças, guerras ou inundações existenciais com epidemias de ciúme.          
        O amor maduro é a valorização do melhor do outro e a relação com a parte salva de cada pessoa. Ele vive do que não morreu mesmo tendo ficado para depois. 
        Vive do que fermentou criando dimensões novas para sentimentos antigos, jardins abandonados cheios de sementes. Ele não pede, tem. Não reivindica, consegue. Não persegue, recebe. 
        Não exige, dá. Não pergunta, adivinha. Existe, para fazer feliz. Só teme o que cansa, machuca ou desgasta.

(Artur da Távola)