29 novembro 2010

Alma Desnudada


Sentimentos represados
que eternizaram momentos,
retidos por contingências
que se alcançam os motivos...

Lágrimas minhas extravasadas
que escreveram histórias,
que jamais seriam protagonizadas.

O grito interior silenciado
pelo conselheiro mais sábio: o tempo.

Amigo-amor, amigo-anjo...
Estende tuas asas e cura as minhas dores.
Balsamiza com o teu eu , minhas inquietações.
Acalenta meus sonhos renunciados...

Tu vieste antes de mim,
pra me aconchegar em teus braços fraternos,
para me reordenar no teu conselho sábio...

Com teus passos, ensinar-me a caminhar.
Ajudar-me a reescrever minha história.
Com o teu exemplo de resignação me reconstruir,
Com teu abraço me re-significar...

Ana Karina Alcântara





25 novembro 2010

Missão



O amor calado, mudo.
Na sua mais nobre pureza...
A sublimidade extravasa
Em resignada singeleza.

Um amor maior o surpreende
O chama ao trabalho renovador
Mas ele não sofre, não lamenta,
Silencia a sua dor...

A renúncia ao seu afeto
Enobrece seu terno coração.
E segue fiel adiante
Abraçando sua missão...

Nas estradas de provação
Do sacrifício lenitivo
É a fé que o reestrutura
Com abençoado curativo

Pois certo que o amor é eterno
Na infinita vastidão
As lágrimas visitam-lhe a alma
Num pranto de gratidão...


Karina Alcântara

20 novembro 2010

Perdão

          
           Perdão significa no sentido estrito, remissão de pena, desculpa, indulto. Mas tem essa palavra um conceito bem mais amplo, quando vemos pelo ponto de vista emocional.
           Perdoar não se restringe a um gesto mecânico ao verbalizar a famosa frase: Eu perdôo!  
          Existe toda uma estrutura psico-emocional por trás desse gesto para que se torne verdadeiro.  De nada adiantaria a pessoa falar que perdoa outra, sem o esquecimento da ofensa. Já vi gente falando: Eu perdôo, mas não quero mais aproximação! Será que perdoou mesmo? A dinâmica do perdão, nos remete a uma profunda reflexão. Temos que estar cientes que o esquecimento da falta que o outro praticou contra nós deve ser uma constante no mecanismo do perdoar. 
          Jesus Cristo, ao perdoar Maria Madalena, na frente de seus algozes, apresentou-nos o poder do perdão, na sua máxima expressão. Da mesma forma quando respondeu a Pedro: “Não perdoai sete vezes, mas setenta vezes sete vezes.”  Entende-se daí a capacidade ilimitada de perdoar que teremos que acolher em nosso coração. Um exercício que exige de nós, prática,  humildade e amor.  É fácil? Não. Em determinadas situações nos é imensamente penoso indultar o outro de sua falta, quando nos fere o orgulho, a tola vaidade ou nossos mais variados interesses principalmente de cunho materialista.
          Nossa constituição física e espiritual foi sabiamente arquitetada por Deus, de modo que funcionam como uma caixa de registros de nossas ações mecânicas e mentais. Todos nós somos energia. Trocamos energia incessantemente, por isso é importante que estejamos cientes em engendrarmos boas ações e cultivarmos pensamentos elevados.
          O perdão quando verdadeiramente sentido, nos satura de energia curativa. Mas, ao contrário, o rancor traduz-se em energia perniciosa à nossa alma, que com o tempo, reflete em nosso corpo provocando-nos doenças. Daí vermos ao nosso derredor, pessoas com a saúde do corpo seriamente comprometida, fruto dos desatinos e atitudes inconsequentes que teimosamente insistem em cultivar, tornando dessa forma, a vida cada vez mais penosa nos caminhos que Deus oferece.
           Portanto, silenciemos nosso íntimo, buscando ouvir a voz serena e melodiosa do nosso Mestre Jesus Cristo, a ecoar dentro de nós, convidando-nos a reforma interior e a caminharmos juntos rumo à glória em Deus.

Abraços.

Karina Alcântara

19 novembro 2010

Renúncia



A solidão vergasta
A moldura da alma
Entorpece os sentidos
Subtrai-nos a calma...

Os ponteiros do relógio
Trilham soberbos na noite
A despeito da minha dor
Que fere como o açoite

Pressagiam a triste ausência,
D’um amor que não voltará
Que o tempo levou embora.
Mas que dentro, eternizará.

A lavagem da alma doente,
O crepúsculo prenuncia.
As lágrimas vertem dolentes,
Numa saudade pungente
Que ao amor renuncia...

Karina Alcantara

16 novembro 2010

Afinidade


A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
E o mais independente.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro
retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto
no exato ponto em que foi interrompido.

Afinidade é não haver tempo mediando a vida.
É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo para o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.

Ter afinidade é muito raro.
Mas quando existe não precisa de códigos
verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento,
irradia durante e permanece depois que
as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar
a um não afim, sai simples e claro diante
de alguém com quem você tem afinidade.

Afinidade é ficar longe pensando parecido a
respeito dos mesmos fatos que impressionam comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavras.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento

Afinidade é sentir com. Nem sentir contra,
nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente,
mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado,
não para eles próprios.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar, ou, quando falar,
jamais explicar: apenas afirmar.

Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.
É conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quanto das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação no ponto em que
parou sem lamentar o tempo de separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser,
cada vez mais a expressão do outro sob a
forma ampliada do eu individual aprimorado.


Artur da Távola

Absolvição




As horas passam,
As horas calam...
Sinuosas, silentes,
Castas, incúrias.
 
Quedam expectativas,
Clamam conjecturas.
 
Saciam em si,
O desejo infrene,
A conduta indene
Da plena satisfação
Do ego improbo,
 
Mas, digno de absolvição...
 
Karina Alcântara

13 novembro 2010

Toqueiros


No horizonte de lutas e aflições
A Providencia Divina se faz...
Vêm na figura humana,
Como anjos da paz...

O caminhar leve e preciso,
Expressa a convicção missionária.
Emoldurada no olhar sereno,
Mitigam dores solitárias.

São luzes do céu na Terra,
Aclarando muitos destinos
Onde passam vão dissipando
A crua aridez do caminho

Pungindo lutas,
Ceifando dores
Seguem firme no intento.
Levando albores aos vencidos,
Socorrendo os desvalidos.
Aplacando o desalento...

Sob as vestes escuras e rotas,
Escondem suas asas diáfanas,
Flanam por entre os filhos de Deus.
Buscando a semente não gestada.

As mãos juntam-se em prece,
As lágrimas molham a estrada,
Numa súplica silenciosa.
De missão tão sublimada

Choram pelos filhos divinos,
Perdidos nas estradas da dor
Mas seguem firmes e retos
Na caridade e no amor...

Karina Alcântara


12 novembro 2010

Encantamento


  
Encanta-me
Com tua graça...
Com tua raça...
Com teu ser...

Faz de mim
Teu capricho audaz.

Faço de ti
Escudo da minha paz.

És pra mim
O grão que o vento leva,
A luz que ao branco ofusca,
A chuva serena na algidez noturna.

Sou pra ti, quiçá a eternidade
Dos meus momentos de desatinos.
No meu íntimo febril e insone,  
A prudência grita meu nome
Nas emoções em desalinho...

Encanta-me... 

Karina Alcântara

11 novembro 2010

Amor Profano


Ufana meu ser poético, sedento de desejos
Sublimados pela tua essência depuradora...

Lava-me com tuas contradições...
Leva-me ao infinito
Onde eu possa te alcançar e compreender.

Enxuga meu pranto
Com tua essência desnudada, altruística...

Dá-me tudo o que de melhor tens.

Daí, então eu possa te compreender...
Eu possa te aconchegar...
Eu possa te serenar dentro de mim...

Karina Alcântara

10 novembro 2010

Perspectiva



 O nada em mim se fez tudo...
Nas horas vagas da noite...
Aflorou em mim a saudade...
Vergastou-me como açoite

Alinhava em mim o teu ser...
Aprisiona-me em teus laços,
Refugio-me em teu regaço,
Diante de ti me faz crer...

Que teu silêncio me remedia a alma,
Faz-me transigir a calma,
E cedo aos apelos castos
Do teu ser...

Karina Alcântara

09 novembro 2010

Amor Maduro


        
        O amor maduro não é menor em intensidade. Ele é apenas quase silencioso. Não é menor em extensão. É mais definido, colorido e poetizado. 
        Não carece de demonstrações: presenteia com a verdade do sentimento. Não precisa de presenças exigidas: amplia-se com as ausências significantes.
        O amor maduro somente aceita viver os problemas da felicidade. Problemas da felicidade são formas trabalhosas de construir o bem e o prazer. 
         Problemas da infelicidade não interessam ao amor maduro.  
        O amor maduro cresce na verdade e se esconde a cada auto-ilusão. Basta-se com o todo do pouco. Não precisa nem quer nada do muito. 
        Está relacionado com a vida e a sua incompletude, por isso é pleno em cada ninharia por ele transformada em paraíso. É feito de compreensão, música e mistério. É a forma sublime de ser adulto e a forma adulta de ser sublime e criança. O amor maduro não disputa, não cobra, pouco pergunta, menos quer saber. 
        Teme, sim. Porém, não faz do temor, argumento. Basta-se com a própria existência. Alimenta-se do instante presente valorizado e importante porque redentor de todos os equívocos do passado. 
        O amor maduro é a regeneração de cada erro. Ele é filho da capacidade de crer e continuar, é o sentimento que se manteve mais forte depois de todas as ameaças, guerras ou inundações existenciais com epidemias de ciúme.          
        O amor maduro é a valorização do melhor do outro e a relação com a parte salva de cada pessoa. Ele vive do que não morreu mesmo tendo ficado para depois. 
        Vive do que fermentou criando dimensões novas para sentimentos antigos, jardins abandonados cheios de sementes. Ele não pede, tem. Não reivindica, consegue. Não persegue, recebe. 
        Não exige, dá. Não pergunta, adivinha. Existe, para fazer feliz. Só teme o que cansa, machuca ou desgasta.

(Artur da Távola)

Soneto a Quatro Mãos


Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se
em grito
Contra
o meu próprio dar demasiado.


Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.

(Paulo Mendes Campos e Vinícius de Moraes)