29 junho 2012

Horizonte



Sigo nas vielas da vida
Por caminhos ora florescidos
Pela primavera das minhas lutas
Pelas margaridas e hibiscos.

O horizonte que ao longe vislumbro
Pelo olhar dos meus pobres pendores
Afigura-se-me terno deleite
Do outono dos meus labores...

Karina Alcântara

23 junho 2012

Amizade


A vida nos direciona por caminhos que nos levam a situações e pessoas que nos engrandecem.
O homem é um ser social, e por essa característica, busca o convívio com seus semelhantes. Semelhanças ideológicas, morais, comportamentais ou simplesmente afinidades, são compartilhadas por aqueles que se completam.
Muitas pessoas passam por minha vida. Poucas ficarão em meu coração...
Amizade é conceito que não se pode banalizar. É sublime demais para ser reduzido ou confundido com a mera condição de convivência circunstancial.
Agradeço aos verdadeiros amigos, pelo convívio diário, pelas risadas, pelo ombro amigo, por entender meus momentos de introspecção ou mesmo por, sem intenção alguma, ter sido rude em algum momento.
Cada um me inspira e me ensina, pois a amizade é também uma troca de valores e princípios.
Àqueles amigos com os quais convivo, que colaboram muito para meu crescimento interior com seus gestos positivos, agradeço de coração.
Àquelas pessoas com as quais convivo, e que revelaram-se como verdadeiras lições de cautela de minha parte, agradeço sua convivência, por terem me ensinado que devemos agir com prudência, para não acumularmos decepções. Apesar de não encontrarem acolhimento no meu coração, ainda assim me ensinaram...
A vida é assim, feita de idas, feita de vindas, feita de afetos e desafetos, mas sobretudo, feita de esperança!

Karina Alcântara

21 junho 2012

Púrpura


A beleza singular
Da púrpura em flor.

Os seus frágeis e belos traços
Arrematam com primor,

As alegorias singelas
De alvinitente toucador.

Karina Alcântara

20 junho 2012

Partida



Os últimos raios da tarde inundavam o quarto...
A moldura da face que o espelho mostrava, traduzia a congestão emocional que lhe ia n'alma.
O quarto todo era calmaria, o que contrastava com o interior de Júlia.
Cortinas diáfanas, bailavam ao leve roçar do vento que entrava pelas janelas entreabertas, e, entre um balançar e outro, deixavam transparecer a tarde luzidia que findava lentamente.
A mobília clara e bem cuidada era de um gosto bem acurado. O tapete de lã de carneiro, macio e farto, subjugava-se à magistralidade da cama de dossel, de madeira artisticamente trabalhada.
Ao teto, um lustre de cristais, dava o toque de encantamento e requinte.
A bandeja com uma leve refeição trazida por uma serviçal, ainda continuava intocável à mesinha de cabeceira, enfeitada por graciosos jarrinhos de flores.
De olhar vago, recostada em macios travesseiros com fronhas de cambraia finamente bordadas, Júlia viajava...
Os cabelos escuros e ondulados lhe caíam sobre os ombros em madeixas. A face rosada compunha uma harmonia perfeita com os olhos grandes e verdes, com longos cílios que emprestavam-lhe uma beleza incomum. O vestido nude, rebordado de cristais, recobria sua pele alva e delicada.
Lida e relida inúmeras vezes, a carta ainda repousava entre suas mãos. A alegria jovial que lhe pertencia e encantava a todos, cedeu lugar à apatia e tristeza. Não podia acreditar no que acabara de ler. Seriam meses intermináveis de longa separação, que ela, já padecia por antecipação. Os estudos do rapaz se faziam necessários ao enlace matrimonial, no futuro que se delineava. Ela sabia disso, mas era inevitável não sofrer com a partida do seu primeiro e verdadeiro amor...

Karina Alcântara


11 junho 2012

Mãe e filho


A tarde declinava vagarosa...
Nuvens pesadas, atestavam um temporal.
O vento frio sibilava, balouçando algumas peças esquecidas no varal. Era lindo de se ver, o arbusto de goivos amarelos envergando-se, como que reverenciando o portentoso poder do vento, roçando a pequena cerca desbotada pela ação dos anos.
Urgia a busca de um aparato, no caso de falta de luz, e a pressa em tirar a roupa toda, fez Jane esquecer a panela fumegante no fogo. Já escurecia. Alguns raios riscavam o céu, enquanto os primeiros pingos já caiam. Por sorte, a roupa estava salva. Mal fechou a porta a chuva silenciosa umedecia a terra.
O cheiro úmido do relento, harmonizava-se com o cheiro doce do arroz cozido no leite com canela.
À mesa, um simples jarro ostentava a beleza singela de lisiantos brancos recentemente colhidos, e ainda exalando o frescor campestre.
O frio já se fazia sentir dentro da casa, o que fez com que Jane percebesse algumas janelas abertas. Correu para fechá-las e percorreu a vista pela paisagem lá fora... Os pingos de chuva eram mais intensos e os ventos ainda sopravam com certa força.
De súbito preocupou-se com o avançar das horas vendo que seu filho ainda não retornara do vilarejo próximo. Na verdade, tinha saído com uma pequena lista de compras às mãos e já decorria o tempo de 1 hora, sem nenhum sinal de retorno. Logo logo iria escurecer, e com o temporal, as estradas tornariam-se enlameadas o que tornaria mais penosa e demorada sua vinda. Ademais, a charrete não protegia tanto e chegaria ensopado.
Tirou a panela do fogo, foi ao quarto, abriu a última gaveta da cômoda e tirou um casaco de lã macia, verde-água, presente de sua mãe. Vestiu-o e foi direto ao quarto do filho, separar as roupas quentes e colocá-las sobre a cama para quando ele chegasse, pois saberia que viria tiritando de frio.
Preparou a mesa com graciosas tigelinhas de porcelana decorada e pôs-se a dobrar meticulosamente a roupa.
Estava sentada próxima à janela, de modo que permitia-lhe uma visão privilegiada da estrada, até a curva do arvoredo de eucaliptos. Então vez por outra, alçava o olhar ao encontro da janela, a espera do seu filho.
A chuva diminuiu, e logo após alguns minutos, via-se uma charrete na curva do arvoredo. Suas rodas de madeira, salpicando a lama do caminho, rodavam com certa dificuldade.
Eis que assoma ao portão, e Jane já o espera para ajudar com os pacotes e sacolas.
O jovem guarda a charrete e desincumbe o cavalo do seu ofício do dia, conduzindo-o ao estábulo.
De retorno, trocas as roupas molhadas e as botas sujas de lama, que ficaram lá fora, e, enquanto a mãe arruma os víveres na despensa, vai contando as novidades que soubera na vila.
As primeiras luzes da casa foram acesas, e, enquanto os dois degustavam o arroz doce em meio à animada palestra, já era noite lá fora...

Karina Alcântara
 

Que eu me permita



Que eu me permita ao brilho do dia,
Ao sopro da brisa fria,
À beleza da tarde finda,
Que o crepúsculo acaricia...

Que eu me agarre a esse dia,
Que fugidio se afasta
Levando consigo a alegria,
Dos momentos de graça...

Karina  Alcântara

Vivo...



Vivo nas sombras das palavras,
Que hora me fazem rir ou chorar,
Que hora me permitem extravasar o lirismo
Do meu eu abstraído em versos...

Vivo nas sombras das palavras,
Que me fazem sentir a bruma poética
Dos encantos da vida mitigados
Pelos apelos da urgência do dia...

Karina Alcântara