10 julho 2011

Bucolismo



          O dia era de um frescor digno de nota. O céu azul e a tepidez da temperatura arrematavam o cenário perfeito para excursões campesinas... No varal, a brisa que soprava amena balouçava as roupas, como a avisar que já estavam prontas para serem recolhidas. A leveza esvoaçante das peças atestava que nenhum traço de umidade restava... Essa, a conclusão de Lena, recostada à porta branca da cozinha trabalhada por mãos experientes.

          Próximo ao batente da cozinha, no rodapé externo da casa, um canteirinho abrigava, limitados por uma cerquilha de madeira, lindos miosótis, margaridas e gerânios que enfeitavam o bucólico cenário.

         Os cômodos da casa, onde iriam abrigar os hóspedes, já estavam todos limpos e devidamente preparados para a temporada de férias. Era sempre assim, os netos de Lena sempre passavam férias naquela herdade. Eram dias de corre-corre para satisfazê-los nas mínimas necessidades. Eram dias esperados, quando a casa se enchia de efusiva alegria. O balanço de corda e madeira sob a velha figueira voltaria a ranger alegremente. Os banhos no riacho de águas muito claras, que passava ao fundo do pomar, também era bastante lembrado por eles.       

          O floral vivo da toalha de mesa no varal lembra a Lena que não tarda a chegada dos hóspedes. Saiu de seu devaneio e apressou-se a recolher as peças estendidas para passá-las sem demora e dar prosseguimento às suas atividades. Olhou para o relógio. Eram 16 horas. O cheiro do bolo assando espraiou-se pela casa e as maçãs colhidas pela manhã, já aguardavam a um canto, para dar cumprimento ao ritual gastronômico a que se destinavam.

         Ao chegar, estariam famintos e a mesa já deveria estar posta com o repasto da tarde. Sucos, bolos, pães de queijo, geléia... Quitutes variados ornamentavam tão primorosa e convidativa mesa.

         E assim se deu, pois ao chegarem, o velho fogão a lenha era o co-responsável pelo cheiro exalante do café que estava sendo coado, bem como, pela fervura alva do leite fresco que lhe serviria de companhia no festim de acepipes e guloseimas.

         A terapia da alma processa-se no singelo bucolismo do campo, quando nos permitimos à tarefa de nos despir das urgências que a vida dos grandes centros nos impõe. Na verdade, urgências por vezes desastrosas em nossa vida emocional, quando nos deixamos deslumbrar por uma vida de excessos de todos os matizes e terminamos por esquecer a simplicidade com a qual devemos emoldurar nosso cotidiano.

Karina Alcântara.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário