22 agosto 2011

Efemeridade

        A leitura entretida no orvalhar da manhã absorveu todo seu foco.

        O dia amanhecera claro e límpido. O trinar dos pássaros foi um convite irrecusável para uma boa leitura ao ar livre.

        O capuccino morno caprichosamente preparado com a crocância maltada dos flocos de chocolate era sorvido calculadamente no permeio de linhas e entrelinhas...

        Estendida por sobre a relva ainda umedecida pelo orvalho da madrugada, uma toalha de xadrez vermelho arrematava o cenário bucólico.

        Sentada esquecida do tempo, servia-se da leitura alternadamente com a iguaria láctea.

        Os raios matinais como que massageavam sua pele fina e delicada, da mesma forma que reluziam as ruivas madeixas naturais espalhadas pelo linho róseo do seu vestido. Uma fita da mesma tonalidade do tecido prendia artisticamente uma porção do cabelo à altura da nuca emprestando-lhe um ar jovial.

        Os olhos esverdeados com longos cílios faziam um contraste singelo com a pele alva e rosada. Os dedos longos e delicados eram ágeis na condução das páginas que eram consumidas avidamente...

        Tão absorta estava que mal pôde sentir o tempo mudando. O passar das horas trouxe uma aragem mais fria que começou a soprar fazendo tremular a faixa do seu vestido. Foi então que um súbito arrepio a fez despertar para o mundo exterior, e percebeu a formação de nuvens plúmbeas no horizonte.

        Com pressa, fechou o livro marcando a página com um raminho de ecsória, levantou-se juntando a xícara e a toalha e apressou o passo demandando a casa.

        O vento tornou-se mais forte, balouçando sua vasta e sedosa cabeleira e ao alcançar o portãozinho de madeira já podia sentir os primeiros pingos de chuva.

        Correu para o quarto, colocou roupas quentes e meias e, enfiando-se debaixo de macias cobertas, pôde dar continuidade à sua silenciosa leitura...

 

Karina Alcântara




Nenhum comentário:

Postar um comentário