A leitura entretida no orvalhar da manhã absorveu todo seu foco.
O dia amanhecera claro e límpido. O trinar dos pássaros foi um convite irrecusável para uma boa leitura ao ar livre.
O capuccino morno caprichosamente preparado com a crocância maltada dos flocos de chocolate era sorvido calculadamente no permeio de linhas e entrelinhas...
Estendida por sobre a relva ainda umedecida pelo orvalho da madrugada, uma toalha de xadrez vermelho arrematava o cenário bucólico.
Sentada esquecida do tempo, servia-se da leitura alternadamente com a iguaria láctea.
Os raios matinais como que massageavam sua pele fina e delicada, da mesma forma que reluziam as ruivas madeixas naturais espalhadas pelo linho róseo do seu vestido. Uma fita da mesma tonalidade do tecido prendia artisticamente uma porção do cabelo à altura da nuca emprestando-lhe um ar jovial.
Os olhos esverdeados com longos cílios faziam um contraste singelo com a pele alva e rosada. Os dedos longos e delicados eram ágeis na condução das páginas que eram consumidas avidamente...
Tão absorta estava que mal pôde sentir o tempo mudando. O passar das horas trouxe uma aragem mais fria que começou a soprar fazendo tremular a faixa do seu vestido. Foi então que um súbito arrepio a fez despertar para o mundo exterior, e percebeu a formação de nuvens plúmbeas no horizonte.
Com pressa, fechou o livro marcando a página com um raminho de ecsória, levantou-se juntando a xícara e a toalha e apressou o passo demandando a casa.
O vento tornou-se mais forte, balouçando sua vasta e sedosa cabeleira e ao alcançar o portãozinho de madeira já podia sentir os primeiros pingos de chuva.
Correu para o quarto, colocou roupas quentes e meias e, enfiando-se debaixo de macias cobertas, pôde dar continuidade à sua silenciosa leitura...
Karina Alcântara
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