10 março 2011

Um Missionário...




Tudo era simplicidade...
A justaposição da parca mobília, emprestava uma harmonia contagiante a quem pudesse vislumbrar o ambiente interior daquela simples moradia.
A miscelânea de odores com notas florais ajustados perfeitamente ao cheiro de limpeza que imperava, é simplesmente balsamizante.
Em humílimo, mas digno fogão a lenha, fumega a última refeição do dia: um caldo de legumes que reconforta pelo aspecto e aroma que exala.
A casa não é grande, mas o suficiente para albergar qualquer transeunte que cruzasse aquelas plagas em busca de refrigério espiritual.
O piso é de tijolo de adobe de cor clara, confeccionado por mãos hábeis e artesãs, cuja dedicação impressa nesse revestimento bruto aliada à atmosfera reinante, torna-o de uma delicadeza singular.  A cobertura se faz adornada por telhas sustentadas por uma estrutura de caibros e ripas muito bem dispostos. É perceptível a maestria com que o anfitrião mantém a limpeza e organização do seu lar. Nada destoa naquele conjunto. Nenhuma peça está em desconformidade. Na mesa de madeira tosca da cozinha, um gracioso jarro com flores colhidas pela manhã atesta o gosto pelas belezas naturais que vicejam naquela região.
Leve aragem com cheiro de ervas em bafejos convidativos, sopra de fora da choupana. Um herbanário diversificado e muito bem cuidado é o cartão postal do espaço contíguo à cozinha.
Lá fora a natureza reverencia um dos espetáculos mais belos e dignos de nota: o entardecer em suas nuances róseas alaranjadas... O tempo começava a esfriar...
Um leve rangido nos gonzos da porta principal de madeira pesada, faz-se ouvir. Adentrando a casa surge a figura de um homem envergando uma simples túnica até o joelho, sobreposta a uma calça comprida em tecido de algodão cru. Aquela vestimenta alva harmoniza-se ao semblante adornado por um olhar sereno e emoldurado por cabelos encanecidos pela ação do tempo... É um olhar puro, curativo, cativante... Sua vida é de lutas, limpando feridas físicas e morais, suavizando com conselhos sábios a dura existência de muitos que ainda não haviam aprendido a lidar com as cruezas do caminho, por ainda não terem desenvolvida dentro de si, a destreza proporcionada pela fé verdadeira. Traz às mãos um feixe de lenha, para avivar as chamas de velha lareira que crepita debilmente, visto a friagem aproximar-se.
Chega e põe combustível na lareira. Caminha até o fogão e retira o caldo que já está pronto em silenciosa ebulição... Faz sua refeição em silêncio reflexivo... Após nutrir-se adequadamente, executa a última faina do dia... Louça lavada e guardada, dirige-se ao aposento particular, onde aos últimos raios do dia, vislumbra-se uma cama e uma cômoda de madeira, muito modestas. Processa a higiene adequada ao repouso da noite, e põe-se em silêncio meditativo na oração. Louva Aquele que é o Pai de todas as coisas, agradecendo a força com que Ele o agracia, na fiel execução de sua missão juntos aos filhos amados do Seu coração paternal, perdidos nos descaminhos morais. E na justeza das obrigações santificadas repousa um missionário de Deus, onde, pelo sono reparador da noite, prepara-se para mais um dia que se avizinha de trabalhos nobres e edificantes ...
                                                                                                                         
Karina Alcântara

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