20 junho 2012

Partida



Os últimos raios da tarde inundavam o quarto...
A moldura da face que o espelho mostrava, traduzia a congestão emocional que lhe ia n'alma.
O quarto todo era calmaria, o que contrastava com o interior de Júlia.
Cortinas diáfanas, bailavam ao leve roçar do vento que entrava pelas janelas entreabertas, e, entre um balançar e outro, deixavam transparecer a tarde luzidia que findava lentamente.
A mobília clara e bem cuidada era de um gosto bem acurado. O tapete de lã de carneiro, macio e farto, subjugava-se à magistralidade da cama de dossel, de madeira artisticamente trabalhada.
Ao teto, um lustre de cristais, dava o toque de encantamento e requinte.
A bandeja com uma leve refeição trazida por uma serviçal, ainda continuava intocável à mesinha de cabeceira, enfeitada por graciosos jarrinhos de flores.
De olhar vago, recostada em macios travesseiros com fronhas de cambraia finamente bordadas, Júlia viajava...
Os cabelos escuros e ondulados lhe caíam sobre os ombros em madeixas. A face rosada compunha uma harmonia perfeita com os olhos grandes e verdes, com longos cílios que emprestavam-lhe uma beleza incomum. O vestido nude, rebordado de cristais, recobria sua pele alva e delicada.
Lida e relida inúmeras vezes, a carta ainda repousava entre suas mãos. A alegria jovial que lhe pertencia e encantava a todos, cedeu lugar à apatia e tristeza. Não podia acreditar no que acabara de ler. Seriam meses intermináveis de longa separação, que ela, já padecia por antecipação. Os estudos do rapaz se faziam necessários ao enlace matrimonial, no futuro que se delineava. Ela sabia disso, mas era inevitável não sofrer com a partida do seu primeiro e verdadeiro amor...

Karina Alcântara


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