11 junho 2012

Mãe e filho


A tarde declinava vagarosa...
Nuvens pesadas, atestavam um temporal.
O vento frio sibilava, balouçando algumas peças esquecidas no varal. Era lindo de se ver, o arbusto de goivos amarelos envergando-se, como que reverenciando o portentoso poder do vento, roçando a pequena cerca desbotada pela ação dos anos.
Urgia a busca de um aparato, no caso de falta de luz, e a pressa em tirar a roupa toda, fez Jane esquecer a panela fumegante no fogo. Já escurecia. Alguns raios riscavam o céu, enquanto os primeiros pingos já caiam. Por sorte, a roupa estava salva. Mal fechou a porta a chuva silenciosa umedecia a terra.
O cheiro úmido do relento, harmonizava-se com o cheiro doce do arroz cozido no leite com canela.
À mesa, um simples jarro ostentava a beleza singela de lisiantos brancos recentemente colhidos, e ainda exalando o frescor campestre.
O frio já se fazia sentir dentro da casa, o que fez com que Jane percebesse algumas janelas abertas. Correu para fechá-las e percorreu a vista pela paisagem lá fora... Os pingos de chuva eram mais intensos e os ventos ainda sopravam com certa força.
De súbito preocupou-se com o avançar das horas vendo que seu filho ainda não retornara do vilarejo próximo. Na verdade, tinha saído com uma pequena lista de compras às mãos e já decorria o tempo de 1 hora, sem nenhum sinal de retorno. Logo logo iria escurecer, e com o temporal, as estradas tornariam-se enlameadas o que tornaria mais penosa e demorada sua vinda. Ademais, a charrete não protegia tanto e chegaria ensopado.
Tirou a panela do fogo, foi ao quarto, abriu a última gaveta da cômoda e tirou um casaco de lã macia, verde-água, presente de sua mãe. Vestiu-o e foi direto ao quarto do filho, separar as roupas quentes e colocá-las sobre a cama para quando ele chegasse, pois saberia que viria tiritando de frio.
Preparou a mesa com graciosas tigelinhas de porcelana decorada e pôs-se a dobrar meticulosamente a roupa.
Estava sentada próxima à janela, de modo que permitia-lhe uma visão privilegiada da estrada, até a curva do arvoredo de eucaliptos. Então vez por outra, alçava o olhar ao encontro da janela, a espera do seu filho.
A chuva diminuiu, e logo após alguns minutos, via-se uma charrete na curva do arvoredo. Suas rodas de madeira, salpicando a lama do caminho, rodavam com certa dificuldade.
Eis que assoma ao portão, e Jane já o espera para ajudar com os pacotes e sacolas.
O jovem guarda a charrete e desincumbe o cavalo do seu ofício do dia, conduzindo-o ao estábulo.
De retorno, trocas as roupas molhadas e as botas sujas de lama, que ficaram lá fora, e, enquanto a mãe arruma os víveres na despensa, vai contando as novidades que soubera na vila.
As primeiras luzes da casa foram acesas, e, enquanto os dois degustavam o arroz doce em meio à animada palestra, já era noite lá fora...

Karina Alcântara
 

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