"O amor não prende, não aperta, não sufoca. Porque quando vira nó, já deixou de ser laço." (Mário Quintana)
15 setembro 2011
Amor de avó e neta
O calendário do tempo corre inexorável traduzindo as mudanças no corpo e na alma... Vemos que a madureza dos corpos corre em progressão aritmética, pois enquanto para uma descortina todo o horizonte de realizações e projetos pessoais, para a outra em contrapartida, a desaceleração da coordenação física é visível.
A candura e paciência da neta querida põem à prova o afeto recíproco, urdido por longos anos... Se outrora, aquela pequena criança foi alvo dos cuidados e atenção da avó dedicada, agora o cenário da vida se inverte, e o que vemos claramente, é a gratidão e o amor tomar forma e significado. Agora, não mais os pequenos passos do pretérito no longo corredor. Agora eram passos mais longos e firmes da acadêmica em Medicina, que adentram a velha casa, que fora o cenário de tantas recordações... O mesmo olhar, o mesmo sorriso, os mesmos elogios de um coração que mesmo nas adversidades da vida, nunca esqueceu de amar, a recepcionam. A balsamizante bênção lhe conforta o íntimo e lhe fortalece para os embates do dia a dia. O almoço e o sono antes de voltar pra mais uma bateria de aulas, lhe revigoram...
Quantos encontros, quantos passeios ao shopping, quanta cumplicidade escondida pela sombra do tempo...
O destino é tão imprevisível quanto irônico. Um trágico incidente, põe mais uma vez à prova tanto amor e dedicação da neta... Foram dias de zelo, cuidado e doação... O sofrimento no coração descompassado pela dor e pela dúvida acerca do tempo que ainda restava... Quantas lágrimas enxugadas às escondidas... Quantas esperanças confidenciadas em sentidas orações. Até que um dia, teve Deus a certeza do chamado que iria fazer...
A dor lancinante tornava frágil o coração de menina pela perda de sua grande amiga, que foi levada pelas asas do tempo. Não mais o sorriso, não mais o aconchego, não mais os lentos passos dados em sincronia com sua querida avó... Agora, é só saudade...
Floripes, ou sua doce Flor de Lis, que se desprendeu do jardim familiar e ainda hoje, paira acima de sua saudade...
Karina Alcântara
14 setembro 2011
Calmaria...
A brisa suave acariciava-me a fronte.
Olho para o infinito e me reporto...
Ao doce acalanto do azul impávido,
Deixo-me embalar em doces vagas...
Calmaria...
Leve torpor me vence a alma,
Entrego-me a mansa letargia que me resta.
Passando por horas esquecidas, sigo
No pensamento que me leva...
Em silente calmaria...
Karina Alcântara
06 setembro 2011
Outono
O outono tingira a paisagem com seus tons dourados.
Ao espraiar-se o olhar sobre o horizonte, distinguia-se claramente, a amálgama de tons outonáceos na planície de plátanos.
A cada bafejar da brisa fria da tarde, punha a se formar um rico tapete como que rebordado em ouro, a se estender no solo.
O sol ainda teimava em ostentar a calidez dos seus raios, na sua despedida rotineira.
O silêncio total reinava soberano naquelas paragens...
Ali era o local ideal para viagens contemplativas, usando-se o recurso da meditação.
Chegavam aos meus ouvidos, a cada passo articulado, somente o farfalhar surdo das folhas secas deitadas no solo úmido.
O caminho levava a uma alameda cuja sombra fazia-se penumbra.
Finalmente avistei as galhadas baixas da árvore da minha infância. E logo adiante, repousando em águas tranqüilas, o velho barco, que tantas recordações agora me proporciona.
Por uns instantes, estaquei com os olhos úmidos a mirar o lago, como a aguçar em minha mente a paisagem da época dos folguedos da infância, onde vínhamos no verão para passeios de barco e mergulhos inesquecíveis...
Lembranças que me refazem o íntimo...
Quase posso ouvir os gritos e o riso fácil e cristalino a ecoar por entre os arvoredos.
Um tempo que vai longe, mas que ainda hoje é terapêutico nas minhas reminiscências.
Sentei-me no barco e fiquei a divagar por algum tempo, como a experimentar novamente as velhas sensações de um tempo mágico.
Então, despertando do enlevo, pus-me ao caminho de volta, e quando alcancei a casa, as primeiras estrelas já apontavam no firmamento...
Karina Alcântara
03 setembro 2011
Primeiro amor
No olhar, o primeiro encontro...
A cumplicidade se estabelece entre as coincidências
do magnetismo que funde dois corações.
A vida segue em confidências silenciosas.
Sonhos em plena vigília povoam mundos particulares.
O anseio e a saudade mesclam-se na euforia do amor
Que por vezes num misto de dor e alegria,
Remete-nos ao paraíso...
Karina Alcântara
Papillons
Quisera eu ter a leveza de tuas asas,
E voaria livre por entre os prados dos meus sonhos.
Quisera eu ter a leveza de tuas asas,
E desbravaria cantos e encantos reservados ao meu
coração.
Quisera eu ter a leveza de tuas asas,
E roçaria de leve a beleza de tua alma...
Karina
Alcântara
02 setembro 2011
Doce prazer
As
cerejeiras estavam carregadas...
Logo
que se abria a porta da cozinha era o cartão postal que se avistava. Dava gosto
de se ver, carregadinhas de frutos.
As
galhas baixas salpicadas de um vermelho vivo e intenso, chegava a dar água na
boca!
Foi
a primeira providência da manhã... A idéia já começava a tomar forma e passando
o braço na cestinha de vime, dirigiu-se ao quintal da casa.
O
dia amanhecera sereno e o cheiro úmido ainda recendia aos olfatos mais
sensíveis.
A
noite passada havia sido demasiado fria e ainda podia ver-se ao longe, nuvens
carregadas, prenunciando aguaceiros próximos.
Não
titubeou e pôs-se a passos firmes, demandando o caminho que conduzia às
cerejeiras.
O
vento lá fora, apesar de ameno, soprava frio, e fazia com que as faces de
Helena ruborizassem.
As
botinas estavam umedecidas pela relva molhada, mas foram confeccionadas com
material próprio para aquela situação. Tão surradas e cheia de histórias...
Enfim
chegou ao seu destino e pôs-se ao propósito a que se submetera. Em curto espaço
de tempo, a cestinha já estava abarrotada de cerejas de casca lustrosa e de uma
cor viva que instigava qualquer criatividade... Mas ela já tinha em mente o
projeto culinário a que iria submeter-se e aprestou- se a retornar para casa e
preparar o repasto da manhã.
Sim,
faria a tão desejada torta de cereja, que, logo, logo despertaria os que ainda
encontravam-se adormecidos...
Karina Alcântara
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